No coração do picadeiro, sob as luzes que lançam sombras longas sobre a lona colorida, um equilibrista caminha sobre o fio tênue que separa o céu da queda. A cada passo, seus músculos se contraem em um diálogo silencioso entre a tensão e a entrega. O mundo observa, segurando a respiração, enquanto ele, no íntimo, aprende a dançar com o medo.
Imagem do site pixabay.com
A vida cotidiana não é tão diferente desse número de circo. Cada um de nós é um equilibrista, caminhante sobre cordas invisíveis esticadas entre responsabilidades, desejos, frustrações e sonhos. Mesmo com medo, ansiedade e tensão, seguimos em frente, buscando realizar o que precisa ser feito. Assim como no picadeiro, não se trata de nunca vacilar, mas de aprender a permanecer sobre o fio, mesmo quando os ventos soprem forte.
Equilibrar-se na corda é um desafio que exige muito treino. O equilibrista se dedica incansavelmente a alcançar excelência em sua arte. Ainda assim, mesmo após inúmeras horas de treinos, na maioria das vezes, ele precisa lidar com o frio na barriga ao executar e concluir sua apresentação. A cada passo, supera-se, alcança o sucesso e impacta o público.
Apesar de sua postura transmitir confiança, ele não se mantém em pé negando o perigo da queda. O equilibrista reconhece sua vulnerabilidade; sabe o risco que corre ao atravessar o picadeiro pelos ares. Contudo, acolhe o tremor em seus joelhos, sente a temperatura fria da corda entre os dedos e segue adiante. Como artista, ele não foge do medo – ao contrário, convida-o para ser seu parceiro na dança. O medo não é seu inimigo, mas um mensageiro, um lembrete de que aquilo que está em jogo é importante.
Na jornada de uma vida com sentido, também somos desafiados a atravessar vários picadeiros. Treinar para essa travessia significa desenvolver um senso de flexibilidade psicológica. Ser flexível, nesse contexto, não significa evitar a dor, mas estar disposto a seguir adiante com ela, ajustando nossos movimentos para que não percamos de vista o que realmente nos importa. Significa abrir espaço para nossas emoções, sentir a resistência do vento, o frio da corda, sem permitir que esses desafios nos impeçam de seguir.
Imagem do site pixabay.com
Confiando na habilidade adquirida ao longo de muito treino, o equilibrista mantém sua atenção no momento presente. Ele não pode simplesmente se fixar no passado das quedas anteriores, e nos erros que já cometeu em outros momentos, nem se perder também no futuro incerto do próximo passo que precisará seguir. Ao contrário, ele sente o agora com todos os sentidos, atento ao que passa dentro e fora de si.
Nós também somos chamados a essa presença.
Quando nos conectamos com o momento presente, descobrimos que o equilíbrio não é um estado fixo, mas um processo contínuo de ajuste e aceitação. Por vezes, cairemos. Mas a arte do equilíbrio não está em nunca errar, e sim em se levantar e voltar ao fio, uma e outra vez, porque há algo maior nos esperando do outro lado.
Uma vida com sentido não é aquela sem quedas, mas aquela em que escolhemos continuar, apesar delas.
E então, tal como o equilibrista que dança sobre o fio, nós seguimos, oscilando entre medo e coragem, entre controle e entrega, entre a incerteza do abismo e a beleza de seguir em frente.
Se quiser falar comigo ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém, entre em contato.