Sei que não é prudente fazer generalizações, mas com base na minha prática clínica, ouso afirmar: muitos homens, talvez a maioria, enfrentam uma profunda dificuldade em elaborar internamente suas próprias questões. Quando digo “próprias questões”, não me refiro apenas aos dilemas do cotidiano, mas às dores silenciosas que se acumulam por dentro, aquelas que atravessam a história afetiva de cada um, quase sempre ignoradas, negadas ou enterradas sob camadas de racionalização.
Sim, homens também sofrem. Homens também choram, ainda que, na maioria das vezes, só por dentro.
Pensemos no caso fictício de Francisco:
Imagem do site pixabay
Francisco tem 32 anos, é analista de TI e está às vésperas de se casar. Ele tem um relacionamento estável, uma vida aparentemente organizada, mas dentro dele algo range. Francisco teme não conseguir arcar com os custos da nova etapa, teme o desemprego, teme ser substituído por uma máquina. E, mais do que tudo isso, teme não estar à altura da imagem de “homem provedor” que aprendeu a idolatrar, e à qual tenta desesperadamente corresponder.
Nas últimas semanas, Francisco vem tendo crises de ansiedade. Sente o peito apertado, a respiração falha, o coração acelerado. Mas quando chega à terapia, mal consegue nomear o que sente. Ele fala de estatísticas, de algoritmos, de mercado, de produtividade. Tudo isso tentando construir pontes para escapar daquilo que, no fundo, o devora: o medo de fracassar, o medo de decepcionar, o medo de não ser suficiente.
Francisco é um entre muitos. E, como muitos, aprendeu cedo que sentir demais era fraqueza, que homem de verdade segura firme, engole o choro, endurece.
O resultado? Uma alma sobrecarregada de emoções não ditas, não sentidas, não escutadas. Emoções que, sem nome, se transformam em sintomas. Que, sem espaço, se alojam no corpo. Que, sem escuta, se tornam prisão.
O sofrimento psíquico masculino, em muitos casos, não grita, ele sussurra em forma de cansaço, de irritação constante, de insônia, de trabalho excessivo, de desconexão.
Imagem do site pixabay.
E é por isso que, quando um homem procura terapia, é como se estivesse atravessando um território desconhecido: ele precisa primeiro aprender a se escutar. A não fugir de si. A entender que não há fraqueza alguma em sentir, mas sim uma enorme força em acolher aquilo que pulsa dentro.
Talvez o maior desafio seja justamente esse: ensinar homens a se aproximarem de suas dores sem medo de se perderem nelas. Afinal, só conseguimos transformar aquilo que temos coragem de tocar.
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