Observamos até o Não Dito

Algumas pessoas pensam que nós psicólogos analisamos apenas o que é falado pelo paciente.

É verdade que a fala cumpre um papel fundamental no processo terapêutico, isso porque nossos pensamentos se estruturam também por linguagem, logo, a fala traz à tona o que organizamos consciente e inconscientemente. No entanto, a fala não é a única forma de expressar os pensamentos que pairam sobre nossa mente, outros meios também podem ser utilizados, como por exemplo, a análise de sonhos, escrita, análise corporal, etc.

Assim, quando analisamos um caso tudo é levado em consideração e pode explicar coisas que a fala consciente não transmite. Um olhar vago no meio de uma resposta, um cruzar de braços em alguns momentos, um sorriso desconectado, um balançar de pernas, etc. tudo pode comunicar, falar por si só sem que haja uma única palavra.

A gente observa até o não dito. E isso é importante porque, na maioria das vezes, a fala expõe apenas o que a consciência sente e aceita. E, às vezes, o que se senti no íntimo é dolorido demais pra ela trazer à tona na sessão como costumeiramente falamos de qualquer assunto.

É nesse processo de descoberta do não dito que nós psicólogos somos rotulados como àqueles que fazem uma prática profissional quase que religiosa, pois não é comum nas relações humanas perceber esse não dito, o que dá a sensação de que identificá-los torna-se algo sobrenatural.

Por isso também a terapia é um investimento. Saber o seu não dito significa perceber para além do que você mesmo sabe de você. É identificar pensamentos profundos do seu Eu, trazê-los pra consciência, analisá-los e elaborá-los para melhor gerir sua vida.

Nessa análise do não dito a gente confronta hipóteses, desconstrói planos de narrativas e proporciona um encontro com um Eu que até mesmo você desconheça… Por essa razão, muitos saem da terapia como se fossem outros, porque encontraram na caminhada terapêutica com alguém que, embora estivesse sempre por perto, conscientemente nunca esteve presente.

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