A negação do mal e a busca pelo sucesso.

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A busca pelo sucesso na contemporaneidade é um processo psicológico complexo que envolve muito mais que apenas “querer mais”, mas também a negação de uma característica que faz parte da humanidade que é o mal.

Na atualidade, nas relações familiares, o que mais encontramos são pais definindo o futuro dos filhos mesmo antes deles virem ao mundo. Pensa-se em poupança programada, universidades e cursos de inglês, sempre se preocupando com o sucesso no futuro. Quando a criança entra para a escola sempre há incentivo para o alcance das melhores notas e isso também significa incentivar o sucesso. Então, o sucesso passou a ser presente na vida humana e anulou tudo aquilo que de certa forma contrapunha sua forma de existir, por isso, o mal presente na humanidade foi deixado de lado para que o comportamento de busca pelo sucesso se fortalecesse.

Baby, Boy, Child, Childhood, Computer

É interessante pensarmos que é difícil você encontrar, por exemplo, pais que se preocupam em saber exatamente quais são os talentos de seus filhos, é como se esses viessem ao mundo já predestinados a seguirem tais funções. É justamente por isso que muitos ficam em dúvida no decorrer do curso de graduação se exatamente aquela área é a correta, e muitos depois de formados se dão conta de que suas escolhas ou as que fizeram por eles de longe passam perto de sua interioridade. Isso acontece também quando depois de certo tempo no mercado de trabalho a pessoa começa a não ver sentido para o que faz, não tem sentido para sua vida, enfim, tudo parece repetitivo, monótono, desconectado de si, é estranho. Isso acontece porque as escolhas foram feitas com base na economia, nas oportunidades mais realistas e próximas, porém distantes do perfil psicológico, que em nada contribui para as profissões exercidas.

Voltando para questão do mal, o homem busca felicidade a todo o momento e em todas as esferas, é como se viver sem felicidade não fosse viver. A felicidade também recebe a conotação vinculada ao poder, possuir, ter, e não ser. Ser significa aceitar aquilo que nos forma, é reconhecer que não teremos tudo e mesmo assim podemos ser completos. Toda essa problemática tem muita relação com o drama diário da vida e é resquício histórico da Idade Média, em que o mal foi perseguido e a busca pelo bem foi enaltecida no comportamento humano social. Não estou à dizer que o mal é melhor que o bem, não é isso, mas que a imagem do mal existe em nós, porém é rechaçado.

Timeless, Happy, Happiness, No Bustle

A procura pela felicidade representa o “Bem” para a sociedade e por conta disso, ao mesmo tempo, negamos o mal que existe em nós. Ninguém pode viver a tristeza, ninguém pode ser infeliz, ninguém pode não ter um celular da moda, ninguém pode não poder viajar, ninguém pode não conseguir fazer uma pós-graduação. Ninguém, ninguém, absolutamente ninguém pode se mostrar triste. Já percebeu como é comum quando você está em um momento difícil (triste mesmo) e alguém questionar como você está e você responde que está tudo bem. É natural, é social, é nosso arquétipo persona se mostrando mais uma vez na esfera social que você está bem como a maioria das outras pessoas.

Quando buscamos ir ao encontro de nossa interioridade nos aproximamos da coletividade, pois somos todos semelhantes psiquicamente através dos arquétipos e ao mesmo tempo diferentes através de nossas experiências de vida, ou seja, nosso inconsciente pessoal.

Todo ser humano possui luz e sombra, e não há possibilidade de se autoconhecer sem analisar aquilo que representa em você o mal. Compreender o mal que habita em nós significa ampliar a consciência e isso é o que acontece no processo de individuação. Ou seja, entender a si mesmo e tornar-se um indivíduo único no mundo.

Um bom exemplo de como funciona o bem e o mal em nós é representado no filme Cisne negro, lançado em 2011 e estrelado pela atriz Natalie Portman. No filme identificamos a presença do mal através da sombra da bailarina que, sob pressão, às vésperas do espetáculo, mostra-se totalmente diferente do que é no dia a dia, ou seja, diferente de sua persona. Nina, a bailarina, coloca para fora seus impulsos inconscientes relacionados ao mal e isso é percebido também quando ela projeta em outra bailarina os comportamentos que ela tinha vontade de colocar em prática.

Enfim, é comum projetarmos no outro aquilo que não aceitamos em nós mesmos, por isso, enxergamos com facilidade o mal nos outros, mas não em nós.

Link do trailer do filme:

40 - Cisne negro

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Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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