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Eu conhecia o gosto extravagante dela para roupas, por isso comprei a melhor jaqueta que encontrei na loja e junto uma lingerie preta. Estava retornando de uma viagem que durara duas semanas, então a saudade e a vontade de agradá-la era imensa. Meu nome é Marcello, eu tenho 41 anos, sou gerente de vendas e vou contar pra vocês como eu percebi através da terapia que eu era um cara inseguro.

Eu comecei a fazer terapia depois de me sentir mal com meu relacionamento. Após refletir sobre minha história e meu momento atual, fui percebendo algo de errado na relação e o incômodo me levou até um psicólogo. Lá eu pensei que encontraria respostas prontas e imediatas, e não foi bem isso que encontrei. Ainda assim, foi uma experiência que possibilitou me conhecer melhor e tomar decisões…

Quando eu retornei de uma viagem percebi que as coisas já não eram mais como antes na relação com a Estela. Eu viajava com frequência à trabalho e ela ficava em minha casa ou na casa dela mesmo. Certa vez, no retorno de uma dessas viagens, após comprar uma lingerie preta do jeito que ela gostava e a tal jaqueta que eu citei anteriormente, eu já animado para nosso encontro com vários pensamentos safados na mente, liguei avisando que estava indo pra casa dela, mas fui recebido com um balde de água fria, porque ela não podia me receber por estar se arrumando pra sair com uma amiga.

Eu como um cara teimoso fui mesmo assim na esperança de que ela desistisse do passeio pra ficar comigo. Nada aconteceu… ela saiu com a amiga e eu fiquei lá esperando ela retornar. Antes de cair no sono passei algumas horas da madrugada pensando em minha animação pra entregar o presente e ao mesmo tempo na frustração que foi.

Por três anos convivi com a Estela e ela foi sempre assim. Tudo tinha importância em sua vida, exceto eu. Quando decidimos que nossas casas seriam compartilhadas, ou seja, a minha casa seria dela e a dela seria minha, desde o início, ela avisou que era desapegada de relacionamento e eu não acreditei que fosse tanto.

É estranho, porque mesmo percebendo isso não conseguia me ver fora da relação. Apesar de me sentir mal ao menos uma vez por semana, ter ela ao meu lado me dava um conforto, uma sensação de segurança que me ajuda caminhar. Meus amigos diziam que eu precisava arrumar um contatinho pra distrair a mente quando ela não estava, principalmente nas viagens de trabalho, porém nunca concordei muito com isso e segui meus valores.

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Quanto à jaqueta e a lingerie, ela chegou às três da manhã em casa e ao saber o que tinha no embrulho sobre a mesa prometeu abrir pra ver no dia seguinte. Lembro de ter deitado e ficar refletindo, pensando na desfeita com o presente, mas aceitando ela porque sempre fora assim, desligada de nós e do mundo.

Pensando nessas coisas eu dormi…

Acordei meio desapontado e muito pior, novamente me sentindo mal com a situação. Passava pela minha cabeça o fato de eu estar aturando algo que não me satisfazia mais e ao mesmo tempo o quanto eu tinha culpa por tudo aquilo.

Sabe, no começo nossa relação não era assim, apesar de ela não ser tão emotiva, a gente se relacionava, se amava, namorava, se respeitava e tudo fluía. Mas depois, aos poucos, as coisas foram mudando e a todo momento pensei que isso era normal, porque pra sempre não existe, pra sempre sempre acaba.

Eu falei sobre isso em terapia… Precisei entender o que me mantinha preso ao relacionamento que só existia na minha cabeça. De verdade ele não existia porque boa parte dele eu estive sozinho aceitando que as coisas já não seriam mais como antes. 

Aos poucos, eu entendi algumas coisas que me fizeram sentir-me melhor. Primeiro, por eu acreditar que as coisas sempre acabam eu me esforcei ao máximo para ser o mesmo, quando, na verdade, as coisas acabam para que outras surjam, até mesmo em nós. É um processo de transformação em si, não uma morte, e eu não entendia assim… Além disso, eu aceitei ela sem questionar, acreditando ser importante sua mudança como uma realidade de vida. Eu simplesmente aceitei a mudança, permaneci estático, não conversei com ela sobre essas coisas e tudo começou a me incomodar…

Eu cheguei à conclusão que já não era mais feliz, independente de quem errou ou errava. Não me sentia conectado à ela fazia tempos, eu dependia emocionalmente, a necessidade ter alguém em casa me esperando no retorno das viagens.

Outra coisa que eu percebi também foi o quanto me contento com pouco. Por quê? Me questionei tanto nas sessões… e cheguei à conclusão que o fato de eu aceitar as pessoas independente de como elas me tratam por causa dessa verdade de “pra sempre sempre acaba” fala de um Marcello inseguro, que faz de tudo pra

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se manter próximo de alguém que dê um pouco de atenção, mesmo que sejam migalhas.

Hoje faz um ano que eu comecei a terapia e também sete meses que eu terminei com a Estela. Quando me perguntam se foi fácil eu sempre respondo que não. Não foi mesmo. Pra chegar a essa decisão eu precisei rever muitos pensamentos e verdades que eu carregava fazia muito tempo. Tive que aceitar a mudança como uma forma de vida e o “Pra sempre sempre acaba” como uma forma de recomeços, para mim e para todos. Foi assim, percebendo a vida como uma grande árvore com muitos galhos e eu como apenas uma parte de tudo isso, que me senti mais forte pra seguir e continuar a caminhar nesse processe de aceitação e transformação pessoal. 

 

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar comigo ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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