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Uma História sobre se sentir desvalorizada por quem você ama.

Sabe quando você é aquela pessoa que se doa pra todos sem medida? Então, meu nome é Verônica, tenho 35 anos e vou contar o que me levou a iniciar psicoterapia.

Com 13 anos de idade eu conheci o Renato. Ele era lindo, mais velho que eu 5 anos, tinha 17 anos na época, era gatinho toda vida. Ele morava umas duas ruas da minha casa e sempre me via passando em frente a casa dele quando eu ia pra escola. Assim a gente se conheceu, pensei que seria apenas uma paquerinha dessas de adolescência, mas depois de 5 anos virou um namoro sério e com ele estou até hoje.

Há 10 anos eu trabalhava numa confecção como costureira. Lá eu costurava roupa infantil e ganhava por produtividade. O Renato é mecânico de moto, então ele trabalha em casa mesmo até hoje, além de ter uma pequena loja de peças, na época ele tinha transformado nossa garagem em oficina e dali tirava nosso sustento. Apesar de nunca ter faltado trabalho pra ele, pra gente ter uma vida mais confortável na época e mantermos nossos dois filhos, decidi ir trabalhar nessa confecção.

Eu sempre fui muito dedicada em tudo o que faço e no trabalho não seria diferente. Quando eu entrei na confecção já sabia que, quanto mais eu trabalhasse, mais ganharia. Assim, aos poucos, eu fui aumentando minha produção e consequentemente meu salário.

Pensando em ganhar um salário ainda maior, na época eu queria juntar dinheiro pra ir pra Disney com meus filhos e Renato, eu decidi trocar meu turno de trabalho pra noite, porque o valor por peça era mais caro e também porque eu tinha adicional noturno. Apesar de focar no trabalho, nunca deixei minha obrigações em casa, nunca mesmo, então eu chegava em casa 06h30 da manhã, arrumava as crianças pra escola, deitava e dormia até umas 11h30, levantava pra fazer almoço pro Renato e as crianças e depois tirava uma soneca por volta das 17h até umas 18h30, pra 22h entrar novamente na empresa. Ou seja, tinha uma jornada difícil, dura mesmo, com muita dedicação à família, aos filhos, a casa, como muita mulheres né…

Depois de três anos nessa rotina, já com um bom dinheiro guardado e pensando em voltar a trabalhar no turno da manhã, certo dia cheguei em casa e encontrei meu marido dormindo na cama com outra mulher. Não preciso falar pra vocês que meu mundo caiu. Eu que há anos me dedicava a trabalhar com afinco pra juntar dinheiro e viajar com a família, encontrei meu marido dormindo na minha cama com outra enquanto eu estava trabalhando.

Essa situação acabou com meu emocional. Eu me senti descartável, usada, enganada, enfim desvalorizadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Era como se meu esforço pra ser mãe, esposa, profissional, e dona de casa não tivesse servido pra nada. Eu sentia que tinha jogado anos da minha vida na lata do lixo. Só vinha na minha mente a ideia de me matar, porque morrer parecia ser mesmo a melhor coisa a fazer.

A situação no dia se resolveu da pior maneira possível. A gente brigou fisicamente, eu bati na mulher e nele, meus filhos acordaram assustados e chorando, apareceram os vizinhos pra separar todo mundo, foi àquele show a la estilo Programa do Ratinho.

Pois bem, eu fiquei separada dele por dois anos e uns quebrados e minha vida parecia ter perdido sentido. Não porque eu sentia muita falta dele, mas porque eu não conseguia aceitar que eu tinha valor, a situação toda me fez sentir como se eu fosse um nada. Fiquei igual uma zumbi pela vida, ia do trabalho pra casa sem nem dirigir a palavra à ninguém, emagreci 18 quilos porque não comia e a cada dia que passava eu me sentia mais sem valor. Lembro até hoje de olhar uma lata de óleo jogada na rua e pensado que ela tinha mais valor que eu.

Depois desses dois anos de sofrimento minha irmã sugeriu de eu procurar um profissional pra fazer terapia porque ela e meus outros irmãos perceberam que, de fato, eu não estava bem. Eu fui pra terapia com bastante descrédito, mas aos poucos fui me dando a oportunidade de enxergar aquilo tudo de outra forma, me sentindo mais à vontade, acolhida e com liberdade de falar o que eu sentia em decorrência de tudo o que eu tinha vivido. Fui percebendo que meus pensamentos contribuíam pra eu me sentir um lixo e estavam mais prejudicando do que ajudando, mas até chegar a essa hipótese eu tive que ruminar muuuuuuuitas ideias, elaborando isso junto com o psicólogo.

Nesse época o Renato já me procurava de novo, ele pedia perdão, dizia que também estava fazendo terapia, e depois eu descobri que estava mesmo, e queria retomar o casamento. Mas eu não conseguia pensar na hipótese porque estava muito abalada com tudo aquilo ainda.

Depois de algum tempo em terapia, com raiva de mim mesma, aceitei que ainda gostava dele e que desejava dar outra chance pra nossa relação. Aceitar isso foi umas das coisas mais difíceis na minha vida porque envolvia meu amor próprio, algo que estava restabelecendo na terapia, e também o sentimento que eu nutria por ele. Era tipo morde assopra. Tinha dias que eu acordava pensando em voltar e tinha dias que isso era uma hipótese nula. Então foi uma decisão demorada e difícil de se tomar. Todos eram contra, meus familiares, os amigos, e até nossos próprios filhos, mas eu preferi tentar mais uma vez, e assim fizemos.

Decidimos seguir uma vida nova, vendemos nossa casa e compramos uma nova em outro bairro. Hoje estamos novamente juntos porque escolhemos nos dar uma nova chance. Já fui julgada por muitos pela minha decisão, mas hoje estamos felizes, trabalhamos juntos num negócio próprio, uma lojinha de peças de motos, foi um Up grade da oficina de motos que ela tinha, e é isso…

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Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar conosco ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém, entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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