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Imagem do site Pixabay.com

Quando eu tinha por volta dos meus 13 anos e já com a sexualidade aflorada, comecei a acessar escondido alguns sites pornôs pelo computador do meu pai. Navegar por todos aqueles sites e assistir aos filmes era uma experiência de bastante prazer, não apenas pelos vídeos em si que, claro, despertavam tesão em mim, mas sim, pelo risco que eu corria ao ligar o computador na calada da noite ou ao longo do dia e ficar com medo de meus pais acordarem ou chegarem em casa de supetão. Por diversas vezes eu corri pro quarto com o notebook ainda ligado pra me esconder deles, era uma aventura de verdade.

Sabe, eles nunca gostaram de me deixar acessar o computador sozinho, me criaram com bastante rigorosidade e de forma tradicional e religiosa, na minha casa nunca falamos sobre sexo, sexualidade, nunca falamos sobre nada, eu aprendi tudo sozinho, por isso era algo escondido mesmo.

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Eu fiquei nesse looping de assistir vídeos pornôs por bastante tempo, até eu quase terminar a faculdade e, por isso, conheço vários desses sites, dos mais simples aos mais completos, dos mais zueira ao mais luxuosos. Nesse ramo você encontra de tudo, não duvide.

Bem, hoje eu estou com 36 anos, sou dentista, trabalho num consultório particular e tenho minha agenda bastante cheia. Apesar de toda dificuldade que o país se encontra, eu posso dizer que a vida tem sido generosa comigo. Além disso, eu estou noivo da Larissa e vamos nos casar em meados de 2021, se a pandemia permitir, claro.

A história que eu vou contar pra vocês aconteceu quando eu estava no final da faculdade e tinha uns 22 anos. Nessa época, eu andava com 3 amigos lá da faculdade mesmo, o André, o Fernando e o todynho. A gente seguiu o curso juntos desde o primeiro período, éramos tipo unha e carne, era a rapeize da zueira, tínhamos uma pitada de meme com piada, chopp com cachaça, amizade com competição. Eles eram amigos do peito, daqueles que você canta a música do Milton Nascimento “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”, rs era nesse nível mesmo.

Como eu disse no início, meu vício pelos filmes pornôs me acompanhou até o final da faculdade e com o passar dos anos eu deixei de sentir prazer pela situação de risco pra me ver dependente mesmo daquelas imagens, em outro texto posso explicar isso pra vocês. Por diversas vezes eu matei aula pra ficar assistindo vídeos e me masturbando em casa, é uma situação constrangedora pra mim lembrar disso, mas foi uma realidade na minha vida. Depois de conhecer várias atrizes e atores, as empresas mais famosas no mundo, de me inteirar sobre esse mercado que é bastante lucrativo por sinal, eu comecei a cogitar a possibilidade de me tornar um ator pornô. Claro que essa era uma ideia bastante louca né, porque se eu tivesse feito isso certamente teria sido deserdado rs, na verdade, cortaria o vínculo com meus pais porque herança não tinha rs.

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Apesar de ser uma ideia muito fora da minha realidade, essa hipótese ficou rondando minha cabeça por uns 2 anos e meio mais ou menos e com isso eu desenvolvi outras neuroses, como a de ficar medindo o tamanho do meu pênis uma vez por dia pra me sentir confortável. Isso é uma loucura, eu sei, mas eu não conseguia deixar de fazer isso, era um ritual, e quando fazia me via como o cara mais foda da face da terra rs… muita loucura né rs… O pior disso tudo foi quando essa ideia persistente de me tornar ator pornô me fez pesquisar sobre esse mercado, sobre as principais produtoras, eu fiz até contato com diretores e alguns atores e atrizes, mandei e-mails, eu estava meio perdido na época. Esse comportamento acabou me gerando outras questões pessoais e foi justamente isso que me levou pra terapia pra tentar compreender o que passa dentro da minha cabeça.

Vou contar pra vocês agora uma das coisas que eu fiz e me deixa muito mal até hoje…

Certa vez eu fui com André, Fernando e Todynho pra uma choppada do pessoal da medicina. Foi uma noite louuuuuca demais, tinha de tudo naquele lugar, muita gente doida de tanta bebida, fumaça pra todo os lados, a galera perdeu a noção da vida e usou tudo o que podia. Nessa época eu estava evitando beber um pouco porque tinha chegado alterado um mês antes em casa e o clima ficou chato demais, então bebi o suficiente e curti a zueira com todos. Aconteceu que no meio daquela loucura toda eu fiz uma brincadeira com o todynho e isso deu uma merda do cacete. Ele bebe muito, ficou inconsciente, não conseguia manter a cabeça em pé coitado, e eu preguei uma peça de muito mal gosto com ele.

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A festa aconteceu no entorno do prédio principal da universidade e lá os barzinhos costumam colocar uns sofás de palete coberto com mantas coloridas pra galera sentar e beber à vontade. Bem, o todynho estava deitado num desses sofás porque não conseguia se mexer e eu me aproveitando disso abaixei sua calça, fiz um vídeo de uns 10 segundos dele pelado e mandei por e-mail para o endereço de várias produtoras de filmes pornôs. Claro que isso deu merda, na verdade deu muita merda.

Não sei o porquê, ou talvez saiba e não queira aceitar, esse vídeo foi parar em mãos erradas e o todynho passou a ser chantageado pra evitar o vazamento do vídeo. Quando eu enviei fiz pelo e-mail dele mesmo, então quem recebeu tinha todos os dados porque ele deixava assinatura automática no envio de cada mensagem. O pior foi que eu mandei o vídeo pra e-mails estrangeiros, pra endereço que, inclusive, nunca me respondeu. Eu viajei legal….

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O todynho no dia seguinte acordou com um vídeo dele nu no celular sendo enviado por alguém que ele não conhecia pedindo dinheiro pra não vazar a imagem. Pior, é que o todynho era o mais tímido entre nós quatro, por isso essa era uma parada muito difícil pra ele. Eu não tive coragem de confessar que tinha sido eu o idiota que gravei e compartilhei o conteúdo e com isso causei um grande problema pro cara. Nossa, meu amigo ficou muito mal, arrumou dinheiro emprestado, transferiu valores pra contas que ele nem sabia de quem era no desespero de evitar exposição e no final simplesmente a pessoa sumiu e ele foi ficando melhor.

A situação foi resolvida, mas nada disso saiu da minha cabeça. Eu passei a lembrar dessa merda dia e noite. Toda vez que ele me chamava de amigo eu me sentia uma farsa. Me sentia um lixo, a pior pessoa do mundo, e eu sei que eu sou sujo mesmo… por causa disso comecei a carregar essa culpa e passei a assistir mais filmes pornôs pra fugir desse sentimento, dessa amargura que eu criei. Por fim, chegou um momento em que eu mais faltava aula que estudava. Já não tinha mais concentração, era filmes pornôs e masturbação, sentimento de culpa e vazio, pensamentos de morte, ideias suicidas e assim eu percebi que estava ficando cada dia pior. Por conta de um dia quase ter cortado meu braço eu liguei pro André, contei toda essa merda e ele me sugeriu procurar por uma ajuda profissional, foi aí que eu comecei a fazer terapia.

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar conosco ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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