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“Eu sempre fui assim, se não respondessem minhas mensagens eu mandava outra e outra até a pessoa dar um sinal de vida. E caso não tivesse resposta eu ligava mesmo, do telefone, do whatsapp, usava qualquer coisa até encontrar o dito-cujo… Eu sempre pensava: “Euhein, e eu sou lá mulher de ficar tomando galhada de macho?”.

Essa era eu até ano retrasado, hoje estou um pouco diferente, não muito, mas diferente. Meu nome é Luciana, tenho 38 anos e vou contar pra vocês o que aconteceu em minha vida.

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Em 2020 eu terminei mais uma relação amorosa. Mais uma dentre as diversas que eu já vivi na vida. Foi mais um amor que não chegou a se tornar amor. Mais um sonho que foi destruído. Simplesmente, mais um pedaço do meu coração que se foi.

A cada término de uma nova relação é assim que eu me sinto, como se uma parte de mim fosse retirada sem possibilidade de volta, porque eu percebo que todas essas experiências não me ajudam a ser alguém melhor, elas tocam numa parte minha e a deixa cada vez mais ferida.

Ano retrasado eu pensei que seria diferente. Eu sempre penso, infelizmente. Mas dessa vez eu tinha certeza que seria. Tudo estava acontecendo de forma perfeita. A gente se encaixava em praticamente tudo. Existia uma boa conexão entre nós. Até nossos projetos futuros eram semelhantes. Então o fim foi verdadeiramente uma porrada doída, dessas que deixam marcas e nos fazem nos movimentarmos, me fez até vir morar fora do Brasil, desde então estou no Espanha.

Apesar de eu ter ficado mal com o pedido de fim do namoro, o fim em si não me surpreendeu, pois não foi o primeiro e talvez não seja o último. Mas, o que mais me tocou talvez seja o motivo que, embora não seja novidade, me colocou reflexiva pra carai.

Bem, eu já namorei tantos caras e não dei certo com nenhum. O motivo: eu sou ciumenta demais da poha. Não sei ser diferente, ou melhor, não sabia, agora eu tenho me entendido um pouco mais e isso vai melhorar.

Até começar a terapia eu não compreendia porque nenhum cara me entendia. Eu fazia o meu melhor para as relações fluírem. Meu melhor mesmo. Eu chegava me anular pra fazer o outro feliz, mas parece que isso também não significava muito pra eles.

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Meu jeito de ser era sempre o mesmo, eu conhecia o cara e logo depois da primeira ficada já pesquisava tudo sobre ele. Quando eu digo tudo, tô falando tudo mesmo. Eu já cheguei a me conectar com conhecidos deles nas redes sociais e a oferecer dinheiro em troca de informações pessoais, como gostos, histórias passadas, tudo que pudesse ser tornar ferramenta em minhas mãos pra conduzir melhor a relação, agradar, surpreender, e me sentir amada né.

E depois de uns três meses na relação eu começava a ficar preocupada com tudo. Eu desbloqueava o celular deles na madrugada, ia de carro até a porta do trabalho pra ver se estavam saindo no horário correto, aparecia de surpresa na casa dos amigos em dias de festas pra saber se tinham mulheres também, essas coisas…

Infelizmente, depois de certo tempo nenhum deles aguentavam mais e eu ficava com aquela cara de caneca, tipo quando você ganha uma caneca e faz “âh, é esse o presente?”, porque a certeza de estar fazendo o certo não saía da minha cabeça e os términos eram sempre não compreendidos.

Então, nenhum namorado me aguentou por muito tempo e eu vivi isso dos dezoito aos trinta e seis anos. Nossa, foram quase vinte anos me comportando e sofrendo sem conseguir encontrar uma resposta ou uma saída. Foram anos difíceis nessa área em minha vida.

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Em 2020, quando eu meio que cheguei no fundo do poço, desejei viver uma vida diferente. Acho que pela primeira vez o sentimento de impotência bateu forte em mim e por isso decidi procurar por ajuda profissional. Na minha cabeça só passava um único pensamento: deve existir algo de errado comigo.

Eu entrei naquela sala virtual linda por fora, penteada, maquiada, malhada rs, mas destruída por dentro. Como se meu coração estivesse quebrado em vários pedaços e eu estivesse andando com ele assim mesmo, todo danificado.

Ali, aos poucos, fui percebendo a dificuldade presente no meu dia a dia. Reconheci o que causava todo meu sofrimento, eu saí de um poço e vi uma luz.

Essa luz me fez enxergar o tamanho de minha insegurança. Ela parecia uma sacola grande, como a de presentes que carrega o Papai Noel, mas no meu caso ela vinha carregada de um passado repleto de “abandonos e nãos”, de uma história sofrida que eu guardava só pra mim e que interferia no meu dia a dia por meio do ciúmes.

Até àquela época para mim o ciúme representava demonstração de amor. Eu pensava que amar significava passar por essas coisas, fazer as loucuras que eu protagonizava, e a desconfiança uma realidade para qualquer relacionamento. Era uma visão nebulosa sobre a vida, o amor e as relações.

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Hoje, depois de dois anos de terapia, eu continuo a Luciana de sempre, alguém que ainda espera por encontrar um par, um companheiro que vale a pena viver e dividir a vida, alguém que seja sincero e amoroso, porém hoje estou mais entendida de mim, mais próxima da minha história de vida e amando com menos receio de perder. Acho que é isso…

 

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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