A escola também funciona como uma máquina de adoecer seres humanos.

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Ontem eu acordei com a notícia de que um jovem esfaqueou dois colegas em uma escola de ensino médio na cidade do Rio de Janeiro. Isso me fez lembrar meu tempo de escola e automaticamente e a visão que eu tenho sobre ela, pois só quem vive o bullying sabe o que é lidar com uma ferida que violentamente insistem em abrir dentro de você.

Sempre digo que a escola é uma máquina de adoecer pessoas. Isso mesmo… ela adoece quem está lá. De professores a alunos, estão todos suscetíveis ao adoecimento… E não daria pra ser diferente, pois estamos falando de uma experiência coletiva, de carga horária extensa semanalmente, com muitos integrantes às vezes sem motivação nenhuma para estar naquele lugar. Existem professores que não gostariam de lecionar e existem alunos que não gostam de estudar, mas convivem todos juntos no mesmo ambiente. Quando pensamos em educação infantil, por exemplo, não podemos esquecer, inclusive, que as crianças ficam na escola muitas vezes guardadas enquanto os pais trabalham.

Pois bem, era mais ou menos isso que eu vivia na escola. Convivia com quem não tinha a menor vontade de estudar, mas permanecia lá por insistência da família e por exigência do Estado, por isso fazia daquele tempo não um período produtivo, mas sim um momento para infernizar minha vida. Sim infernizava mesmo… Se você sofreu bullying na escola vai saber do que eu estou falando.

Nesse sentido, se você discorda da existência do bullying provavelmente é porque não foi vítima dele. Não confunda o bullying com as piadas que você trocava com seus colegas na escola. Se no final vocês se entendiam numa boa é sinal de que na interação de vocês rolava uma reciprocidade mesmo com as trocas de acusações e as zoações. O Bullying não é isso… No bullying a vítima não consegue responder, ela não entende o que está acontecendo, ela não encontra repertório comportamental para agir e torna-se uma presa nas mãos dos cruéis.

Entenda, o bullying é um tipo de violência que marca as pessoas pro resto da vida. Ele afeta a auto-estima, ele atrapalha o processo de aprendizado, ele adoece psiquicamente as vítimas, o bullying machuca, aponta diferenças, expõe as feridas e as dores das pessoas e por isso dói no íntimo, afeta o psicológico e impulsiona conflitos internos. Até hoje lembro do terror que vivi na escola e olha que já se passaram bons longos anos…

Então por favor, não diminua toda essa problemática falando que o bullying não existe, pois certamente você não viveu ou experienciou um. Pare!

É comum quem sofre com bullying passar a ter medo de sair de casa (fobia social), ter pavor de falar em público (pânico), tornar-se inseguro (baixa auto-estima), etc.… Nessas pessoas a crença de defectividade e abandono é acionada num nível hard e muitas vezes ela só pensa em se autodestruir (pensamentos suicidas) ou acabar com seu agressor. Eu já pensei nessas loucuras várias vezes, só não tive coragem. Mas tem quem faça por não suportar a dor emocional que surge e isso é mesmo horrível, para elas e para os que sofrem com as consequências. Por isso precisamos pensar na escola…

A escola é falha quando o assunto é respeito às diferenças humanas. É preciso psicoeducar as pessoas para que elas aprendam a se relacionar com o diferente. A cor, o tipo físico, o gênero, etc. não pode servir de bobo da corte para entretenimento de uns. A característica de ninguém deve ser usada como piada para divertimento coletivo. Isso significa evoluir enquanto sociedade.

É necessário ensinar gestão emocional pros alunos para que eles aprendam a lidar com o que sentem (medo, ansiedade, frustração, felicidade, amor, etc.) e não descarreguem nos demais. É preciso ensinar respeito à dignidade humana em toda sua pluralidade, porque não somos máquinas padronizadas, formatadas com as mesmas características e medidas, pensamos, sentimentos, nos comportamos, e nos interessamos pela vida de formas complementarmente diferentes.

Precisamos pensar em promoção da saúde mental da sociedade em todos os lugares, inclusive na escola. Aprender a lidar com suas forças internas e respeitar o próximo é estimular uma sociabilidade mais saudável do ponto de vista psicológico.

Vamos juntos!!! Precisamos evoluir… Precisamos de melhores humanos…

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Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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