O Carnaval acabou, você já pode tirar sua Máscara.

Viva seu presente, mas encare seu PASSADO.
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Hoje ao acordar estive pensando no carnaval, nas alegrias estampadas na cara dos foliões, nas selfs que rolaram no meu feed de pessoas felizes, cada fantasia mais bonita que a outra. Algumas críticas sociais e, diga-se de passagem, acredito que a sociedade compreendeu de forma mais direta que é esse o papel dessa festa popular (mas isso já é assunto para outro texto).

Nesses meus pensamentos me deparo com a chuva na janela do meu quarto, vejo o céu de cor cinza e um silêncio que ensurdecia minha alma. Algumas vozes me veio à mente e minha percepção atentou para ouvir cada uma delas. Acolhi e dialoguei com essas vozes e algumas me diziam que hoje era segunda-feira e que precisava estar de volta ao trabalho, por isso logo lembrei da agenda. Outras vozes diziam para eu não abrir as redes sociais, pois teria uma chuva de mensagens motivacionais e elas iriam me obrigar a entrar nesse embalo do “good vibes”, da obrigação de produzir e eu acho que já estava cansada disso. E não é que essas vozes sabem do que estão falando? Alguns tem medo delas, mas ouvi-las com moderação são excelentes companhias.

Bem, as vozes não pararam com as sugestões, mas como quem manda aqui sou e não elas (as rédeas são minhas) eu eu abri as redes e confirmei o que elas disseram. Surpresa??? Não… (risos). Alguns stories e lá as máscaras de dias de lutas de alguns já haviam retornado, junto com os pensamentos suicidas, as lamentações pela chuva, as famosas frases “Eu que lute” e assim por diante. Fiquei na cama refletindo ainda, me lembrei de uma música que embalou meu processo terapêutico por tempos:

“… Eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde pra plantar e pra colher… Às vezes saio a caminhar pela cidade à procura de amizades vou seguindo a multidão. Mas eu me retraio olhando em cada rosto cada um tem seu mistério seu sofrer, sua ilusão…”


Abri o aplicativo de música e fiquei ali ouvindo por alguns instantes, mas logo as obrigações diárias tomaram espaço: ler emails, responder mensagens importantes, confirmar pacientes, etc., por isso fui para o café com minha agenda e meu bloco de anotações de sonhos.

Casinha num lugar de mato verde 🙂

De volta a “multidão” estava eu também pensando: será que é possível sair desse ciclo? Foi quando cansada de mim mesma compreendi que minha reflexão matinal estava em plena sintonia com a natureza. Somos natureza. Tem dias que o céu está o azul mais perfeito do arco-íris, os pássaros na mais linda sinfonia nos presenteando pela manhã, mas tem dias que isso tudo vai embora e a artificialidade entra nos empurrando o alarme nos ouvidos ou em gritos da vizinhança. Tem dias que nem o café é prazeroso, por vezes acordamos com uma notícia ruim, o dia não é bacana, as pessoas são irritantes e nós somos essa mistura de diversas situações que nos atravessam. Até os meios de comunicação não fala mais do glamour dos últimos dias que vivemos, pelo contrário, agora só as mazelas da cidade. E tudo que queremos e nossa alma se lembra é daquela casinha num lugar de mato verde, aonde não exista ruídos sonoros, aonde a paz não seja apenas um estado de espírito.

A verdade é que não há mal no uso de máscaras de carnaval, o problema é quando não queremos nos despojar de tudo que seja artificial, passageiro. Quando não lidamos com a realidade da vida por medo de crescer e eternamente queremos viver no fantástico mundo de Bob, entre confetes e serpentinas. Quando não queremos levar a vida a sério e perceber que “nós somos as nossas escolhas, mas sobretudo as consequências dessas mesmas escolhas”.

Às vezes queremos fugir sim dessa Matrix a que estamos inseridos, mas será que sem esse movimento de desejos e anseios estaremos melhores do que hoje? Será que é possível viver essa vida plena que as redes sociais nos engana diariamente? Qual é a sua verdade? O que sua alma pede? Que anseios e sonhos te movem? É preciso aprender com o poeta que nem todos os dias são festeiros, que há dias de luta, mas também de glórias, e acredite que a beleza da vida está justamente nesse equilíbrio entre o prazer e o dever, entre as máscaras e as sombras, entre o que eu quero e o que eu posso. Por hoje reflita, mas levante e movimente-se, você consegue. O tempo não para, e o carnaval já passou…

 

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Iranir Fernandes
Iranir Fernandes
Iranir Fernandes ψ - Psicóloga (CRP 05/54281), Palestrante, Escritora e Pós Graduanda em Psicologia Junguiana. Tem experiência de atendimento individual, casal e orientação de família. Trabalha com a abordagem Analítica de Carl Gustav Jung em atendimentos presenciais (Rio de Janeiro) e Online. Coautora do livro "A mulher negra e suas transições".

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