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Imagem de Stephanie Ghesquier do Pixabay

Eu fui pra terapia faz cinco meses. Até hoje ninguém sabe que eu falo com o terapeuta uma vez por semana, eu tenho vergonha de contar. Mas eu preciso de me encontrar na vida, porque não aguento mais abrir mão de mim pelos outros. Me chamo Marta, tenho 42 anos e sou vendedora numa loja de roupa no shopping Rio Sul, no Rio de Janeiro, e vou contar pra vocês meu desejo de sair do confinamento da minha vida.

Imagem de PORTRAITxan Xan do Pixabay

No dia 12 de outubro do ano passado, no Dia das Crianças, mais uma vez eu me desentendi com Augusto e foi por causa disso que eu procurei ajuda de um terapeuta. Na ocasião, pra variar, a gente se desentendeu por um motivo bobo e isso é recorrente, acontece sempre e eu já estou exausta.

Eu sou casada com o augusto faz 26 anos. Isso mesmo que você leu, eu estou com ele faz 26 anos. Parece que foi ontem que começamos nossa história, mas já tem esse tempo todo. Quando começamos a namorar eu tinha 16 anos e ele 26, eu praticamente aprendi o que é viver ao lado dele. Eu vivi mais tempo com ele que com meus pais. Às vezes me assusto quando penso isso.

Desde quando começamos a nos relacionar algo ficou muito claro pra mim: Augusto é ciumento. Mas não é um ciúme pequeno desses de ficar chateado pensando que pode me perder. Ele literalmente vasculha minhas coisas, olha minha bolsa, navega no meu celular, faz literalmente uma investigação em tudo simplesmente pra se certificar de que sou fiel. 

Eu me sinto mal às vezes porque não dou motivo algum pra isso. Na verdade nunca dei, sempre vivi pra nossa família e acatei quase todas as vontades dele. 

Quando eu procurei terapia o intuito era justamente encontrar um jeito pra lidar com esse confinamento que eu vivo há 26 anos. Apesar de ele ser bonzinho comigo, chega uma hora que você se sente sufocada, você quer respirar, viver a vida, pensar, sonhar e decidir por uma direção sem ficar com receio do que o outro vai pensar ou fazer. Foi assim que eu me senti depois da última briga ano passado, cansada de me anular por causa dele. por causa desse ciúme doentio.

Imagem de Jerzy Górecki do Pixabay

O problema todo é que eu nem sei pra onde ir. Eu cheguei na terapia pensando sobre “quem sou eu?”. Realmente não sei responder. Comecei a viver com ele tão cedo que sei lá, é como se minha personalidade estivesse grudada na dele e isso dificultasse eu pensar em mim como alguém individual. Eu não sei decidir as coisas por mim mesma, nem consigo me ver vivendo sozinha, fazendo o que gosto por exemplo.

Na terapia eu percebi esse lockdown em que eu me meti. Me tornei alguém confinada numa vida sem individualidade, sem possibilidades de autoconhecimento, desejo, sem liberdade. Hoje eu fico aqui perdida sem saber quem sou, pra onde ir, como me desprender dele. Ainda não sei ao certo se desejo largá-lo porque eu gosto dele, eu só preciso ser eu, entende?

Eu percebi que até o meu dinheiro ele administra. Olha que loucura! Eu trabalho numa loja em pé por 12h todo dia e no final do mês ele quem decide aonde iremos empregar o salário. Sei lá, eu acho que isso tá errado. Ainda não tenho certeza, mas acho que sim.

Eu não tenho todas as respostas pros meus questionamentos, mas a terapia tem me ajudado a refletir sobre isso e, aos poucos, eu tenho me descoberto de tal forma que parece que eu vou desabrochar. Eu estou feliz de perceber e falar isso, porque é assim que eu tenho me sentido, de verdade. Eu desejo estar com ele, mas por decisão, por gostar, por querer dividir a vida e não por falta de opção, por não enxergar mais nada à minha volta. Tem muita coisa pra eu descobrir e viver, mesmo com ele, eu só preciso sair desse confinamento pessoal que eu me meti.

 

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar conosco ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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