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Imagem de kalhh por Pixabay

O Matheus me ligou e pediu pra eu passar o código de barras da fatura do celular porque a operadora estava para bloquear a linha. Ele me orientou a procurar pela fatura no armário de seu quarto e durante a ligação eu encontrei e passei os dados pra ele. Acontece que no meio desse processo ele ficou confuso sobre o lugar exato onde tinha colocado e assim eu acabei abrindo muitas gavetas e portas e encontrei, por acaso, uma carta endereçada a ele. 

Logo após a ligação eu fiquei alguns segundos pensando sobre a tal carta vista na terceira gaveta, me bateu uma curiosidade gigante em saber de quem era. Com 25 anos Matheus só levou uma namorada em casa quando ele tinha ainda seus 16 anos e, desde então, nunca mais conheci ninguém. Percebo que ele costuma desconversar quando o assunto é relacionamento, sempre achei estranho, mas nunca forcei esse tipo de diálogo. Pensei que a carta poderia ser de uma namoradinha e a curiosidade me venceu.

Eu nem cheguei a sair do quarto, pensei que ler não seria errado, afinal, Matheus era meu filho e curiosidade de mãe deus perdoa. Então, eu peguei a carta, abri e logo de cara vi que era um tal de Rodrigo. Achei estranho porque nunca conheci nenhum Rodrigo e olhei pro teto pra tentar buscar na memória alguém com esse nome, mas realmente não lembrei. 

No início da carta o garoto dizia que ter conhecido meu filho foi uma das experiências mais marcantes da vida dele. Fazia muitos elogios sobre o jeito do Matheus, o carinho que ele o olhava, a forma de falar com o cuidado em escolher as melhoras palavras, enfim, era uma gratidão superior a que eu costumava ouvir entre amigos. Eu li a carta toda e no final dela ele dizia que tinha tido uma noite muito prazerosa com Matheus, se declarava e falava em namoro. 

Ao ler tudo isso eu entrei em choque. Na hora minhas mãos começaram a tremer e suar. Eu me sentia paralisada e não sabia o que fazer. A vontade era de chorar e ao mesmo tempo dar uma surra no Matheus. Era literalmente um momento de desespero. Ao descobrir que meu filho era homossexual mil coisas passaram em minha mente… eu me lembrei das pessoas, do meu marido, dos netos que eu poderia não ter, dos erros que talvez eu tivesse cometido para que aquilo tivesse acontecido.

Eu fiquei por umas 2 horas sentada na cama do Matheus pensando no que fazer e depois de me acalmar decidi fingir que não sabia de nada. O Matheus continua sem saber desse episódio. Eu guardei pra mim esse segredo, mas todos os dias eu penso nisso e me dói. Foi por isso que eu decidi iniciar uma terapia, porque não consigo mais guardar isso, mas ao mesmo tempo não tenho coragem de contar pro Matheus. Acho que e o correto é ele me contar… me sinto uma péssima mãe… Qual a razão de ele não se abrir comigo? Será que ele não confia em mim? Será que ele ainda tem dúvidas sobre a sexualidade? Será que eu fiz algo? Será que a culpa é minha? Será que isso vai mudar?  

Eu tenho muitas dúvidas e uma angústia do tamanho do universo.

 

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

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Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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