Uma história sobre querer ser diferente de minha própria mãe.

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Imagem de holzijue por Pixabay

Meu pai me colocou na Kombi e disse que me levaria pra casa de minha vó. Minha mãe ficou arrasada no portão chorando… Eu não entendia nada do que estava acontecendo, apenas sentia por estar sendo levada pra longe dela. Quando meu pai ligou o carro e saiu eu comecei a chorar vendo minha mãe correndo atrás de mim gritando meu nome. Eu senti por mim… eu senti por ela.

E assim começou minha nova vida…

Contando essa história eu iniciei minha terapia. Eu pensava que ia lá falar só sobre a ansiedade, mas percebi que tinha muito mais coisas pra falar. Meu nome é Rebeca, tenho 42 anos e vou contar pra vocês um pouco do que venho aprendendo sobre mim na terapia. 

Com a separação de meus pais, eu passei a morar com meu pai, a nova esposa dele e as duas filhas dela… Isso foi uma mudança grande na minha vida porque eu estava acostumada a ter tudo só pra mim e da noite pro dia tive que dividir o quarto, material escolar, os brinquedos, etc. Eles também me mudaram de escola, me matricularam numa instituição particular e assim passei a conviver com novos amigos e a ver minha mãe somente aos finais de semana. Minha rotina passou a ser assim: toda sexta-feira depois da escola meu pai me levava pra casa da minha mãe e no domingo à noite me buscava de volta.

Meu relacionamento com eles sempre foi bom. Ele e minha madrasta me trataram bem a vida toda, não tenho do que reclamar. Nunca tivemos problema algum, exceto por uma questão, eles costumavam falar mal de minha mãe ou usar a vida dela como exemplo negativo para me orientar sobre a vida e hoje eu percebo que foi algo ruim.

Eu cresci pensando em minha mãe como uma péssima mãe, além de vê-la como uma mulher fracassada, sozinha, sem família, como alguém que não tem muito futuro. Isso me gerou um medo enorme de me parecer com ela, de ser como ela, por isso vivo angustiada querendo superar o mundo e essa angústia não cabia no peito até quando tive uma crise de ansiedade durante a aula na escola em que trabalho.

Minha mãe é uma pessoa boa, esforçada, honesta, carinhosa, eu não tenho motivos pra pensar coisas ruins dela… Mas, por causa das coisas que ouvi a vida inteira aprendi a vê-la como mau exemplo e hoje mudar isso é difícil… Eu não julgo meu pai, ele fez tudo com a melhor das intenções, tentava me proteger, mas infelizmente isso contribuiu pra eu me tornar ansiosa demais.

Depois da crise que tive na escola fui procurar um terapeuta pra me ajudar com a ansiedade. Foi difícil perceber e aceitar minha forma inflexível de ser como consequência de minha história de vida, mas sim, eu me tornei ansiosa com medo de me parecer com minha mãe. Eu aprendi que precisava ser diferente e todo investimento feito pra me afastar dela contribuiu pra me deixar mais ansiosa.

Apesar de eu admirar o jeito dela por ser uma mulher desprendida, independente, com atitude, ao mesmo tempo desejo ser diferente porque em minha cabeça ela é infeliz por estar solteira, por nunca ter conseguido se relacionar com mais ninguém desde o divórcio com meu pai.

Eu venho rondando essa história pra compreender mais coisas que talvez eu tenha absorvido ao longo da minha vida, mas já consigo perceber que a visão que eu tenho dela não é a mais adequada e isso me atrapalha em tudo. Apesar de meu pai ter feito muita coisa boa por mim, hoje reconheço que ele também me prejudicou com essa imagem distorcida da minha mãe e hoje luto pra conseguir reconfigurar essa imagem dentro de mim.

 

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar conosco ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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