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Ele deitou em meu colo e dormiu. Eu fiquei olhando por alguns segundos pensando em como seria minha vida se ele não estivesse aqui. Eu o vejo como uma dádiva de Deus, porque sem ele eu não conseguiria viver. Fico cheia de ódio de ter que fingir que as coisas não são assim pra minha nora só porque ela não gosta do nosso apego. Mas, ela só vai entender isso o dia que for mãe.

Eu me chamo Márcia, tenho 56 anos, sou casada há 34 anos e mãe de dois meninos. Vou contar pra vocês como é o relacionamento com uma de minha noras…

Como eu disse, sou mãe de dois meninos. Eles são o amor da minha vida, o ar que eu respiro e eu sempre me doei por completa pra eles e me esforcei e ainda me esforço pra ser a melhor mãe do mundo.

Imagem de janeb13 por Pixabay

Eles são gêmeos, se chamam Eduardo e Luiz Filipe e têm 32 anos. Os dois são lindos, inteligentes, bem sucedidos nas carreiras que decidiram seguir. Um é advogado e o outro é fisioterapeuta. 

Desde pequenos eles já diziam que seguiriam essas profissões rs. Eduardo sempre foi muito questionador, falante, defensor de ideia e esse jeito de ser ele aplica bastante em seu trabalho. Luiz Filipe é o oposto, ele é carinhoso, extrovertido, presente, calmo, está sempre cuidando de tudo e de todos, não poderia ter outra profissão que não fosse na saúde mesmo. Eles são tão diferentes, embora sejam a cara um do outro rs… Eu amo demais meus filhos.  

Os dois já são muito respeitadores e no momento tenho duas noras. Digo “no momento” porque nora é status passageiro né. Mãe não, mãe é pra sempre. Bem, o Eduardo namora a Marina há uns sete anos e ainda não tem pretensão alguma de se casar, graças ao bom Deus. O Luiz Filipe já é casado há três anos com a Aliny, casou novo coitado, quando ele tinha ainda 29 anos.

Meus filhos são excelentes pessoas. Eu os criei pra que fossem príncipes, educados, cordiais, íntegros, trabalhadores, etc. Mas, infelizmente, acho que eles não deram sorte com mulheres, porque minha noras são difíceis.

Imagem de mohamed Hassan por Pixabay

Eu sempre entendi que elas seriam minhas filhas também, mas hoje vejo que as coisas não funcionam bem assim. Por mais que a gente tente ser uma boa sogra elas nunca vão entender que eles são meus meninos. E não adianta, isso não vai mudar.

Fui eu quem coloquei no mundo, dei banho, ensinei a andar, a falar, a respeitar as pessoas, a gente nunca quer ficar longe das nossas crianças, isso é instinto materno. Eu hein, eu não vou deixar meus filhos de jeito nenhum e pra mulher nenhuma.

Eu fui pra terapia porque o Luiz Filipe insistiu, mas acho que é coisa da mulher dele. Isso tudo porque eu insisti em ir na casa deles arrumar as coisas do Lipe. Aliny não gosta disso, mas ela não sabe dobrar as roupas dele direitinho. Achei um absurdo ter visto a gaveta de cuecas dele toda bagunçada, ele nunca teve isso aqui em casa. Eu fiquei triste mesmo, sinto que ela não está cuidando bem dele.

Essa insistência pra eu começar a terapia foi só porque um dia eu entrei no apartamento deles sem autorização. Veja se isso é motivo pra um filho e uma nora brigar com a mãe e a sogra. Há uns três meses eu entreguei a pedido deles a chave reserva que ficava comigo e por estar sem elas eu chamei um chaveiro e troquei o miolo da porta de entrada da casa. Eu só queria conferir se o guarda-roupa do luiz estava arrumadinho e fiz isso pensando que eles não estariam em casa, porque tinham comentado sobre uma viagem, mas, infelizmente, desistiram e não me avisaram, então na hora que entrei na casa dei de cara com eles assustados e zangados comigo.

Ele é meu menino, a Aliny só vai entender isso o dia que ela for mãe. Eu me preocupo, eu quero estar presente. Será que é difícil aceitar que ele faz parte de mim? Eu acho que não…

Já briguei com a Aliny várias vezes, parece que o sonho dela é que eu morra porque assim o Lipe fique inteiro pra ela. Mas eu não vou morrer nem tão cedo. O psicólogo me disse o contrário na última sessão, ele disse que somos pessoas diferentes, com vidas separadas, mas eu ainda não aceito isso. Ainda não consigo aceitar que ela roubou ele de mim.

 

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

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Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo (CRP 05/54280), Doutorando e Mestre em Psicologia pela UFRRJ e Especialista em Psicoterapia Cognitiva. É leitor autodidata da obra do psiquiatra Carl Gustav Jung. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental, Memória Social, e Formação do Masculino. Trabalha como psicoterapeuta utilizando abordagem integrativa em atendimentos Online (videoconferência).

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